0 Início de Paixão

'' Detesto a fase de '' início de paixão'', mas confesso que já houve um tempo em que eu gostasse. Na adolescência, desejamos a paixão em qualquer etapa, nos apaixonamos pela sensação de estarmos apaixonados, e só isso já basta. Lembro que o Guilherme Arantes cantava uma música que falava  disso: ''É alquimia, início de paixão, tem a inocência, mas tem a tentação, na mistura, a essência do prazer, nenhuma censura, nada a esconder...''. Ele tem razão. No início, nossas defesas ainda não foram acionadas, o sentimento é puro e não nos preocupamos com o fim que a história terá. Mas é a fase da ansiedade. E da adrenalina. E é quando ficamos esperando o telefone tocar, o e-mail chegar, a campainha bater e, se isso não acontece, saímos ensandecidos pela cidade, procurando o garoto como se só ele tivesse a cura para tal tormento. Mera ilusão: é quando finalmente o encontramos que os problemas começam a aparecer.
 Tudo o que ele fala temos que analisar sob 15 óticas diferentes. Cada uma das nossas amigas vira psicóloga. Se algum amigo homem passa na frente, então rapidamente repetimos palavra por palavra do que o objeto do nosso desejo disse, para que ele possa explicar o que o seu companheiro do sexo masculino quis dizer com aquele: '' Aparece lá''.
 Fora isso, também nos preocupamos excessivamente em como agir quando nos encontramos com ele. Se o espelho falasse, com certeza nos mandaria parar de fazer caras e bocas, planejar menos e agir mais. Como ele não fala, continuamos ensaiando, ensaiando e fazendo tudo ao contrário na hora do encontro. 

 quando o menino não corresponde ao nosso sentimento, temos que fazê-lo mudar de opinião: '' Ah, certamente é porque ele ainda não me conhece bem, tenho certeza de que ele vai se apaixonar perdidamente quando souber que eu escrevo poesias, sei cozinhar, posso conversar sobre o que ele quiser e o acompanharia até o campeonato de skate!''. A missão então é entrar no mundo do rapaz, descobrir todos os lugares que ele frequenta, ficar amiga dos amigos dele, saber os assuntos que lhe interessam, e esquecer a nossa vida própria até que ele se digne a olhar em nossa direção.  Às vezes da certo, mas na maioria dos casos o que acontece é que o garoto se cansa de tanto cerco. E acaba beijando outra, menos insistente, bem na nossa frente...
 Claro que pode acontecer diferente. Mas, se ele nos acha uma gracinha, nos trata superbem e diz que nossos olhos são impressionantes... é ainda pior. A vontade de passar logo para a outra fase, a do namoro, aumenta cada vez mais, e , nessa ânsia tamanha, o perigo é tentar acelerar o processo e assustar o moço, que ainda estava pensando se era melhor trocar o jogo de futebol pelo cinema com você. E quando conseguimos esperar pacientemente até que ele se decida, ficamos em dúvida entre aceitar logo o convite para sair ( afinal ele pode perder a graça se dissermos ''sim'' logo de cara) ou não (mas com isso ele pode desistir e não convidar nunca mais). É um dilema!
 Por isso digo com toda certeza: eu odeio essa fase do início. Pode ser a parte mais romântica, a do ficar desejando, ficar lembrando, ficar imaginando... mas eu preciso urgente. Prefiro desejar que cada beijo dele me toque mais fundo, lembrar dos encontros que acabamos de ter e imaginar quais as próximas loucuras poderemos fazer.
 Talvez pulando o estágio inicial. a graça da conquista se esvaia. Pode ser, mas, para mim o jogo só é bom mesmo quando passa da teoria para a prática. Pelo menos foi o que pude aprender com os anos. Momentos em que eu posso conversar com o meu amor olhando em seus olhos, sentir o seu perfume emaranhado em seus braços e arrepiar-me com seus sussurros valem muito mais que o tempo gastos imaginando o que poderíamos estar fazendo. Então que pulemos logo para a parte boa da história e deixemos o '' início de paixão'' para os adolescentes, que têm muito tempo para sonhar. 
 Me dê logo aquele beijo, que eu estou com pressa de você! E o nosso encontro não precisa ter hora pra acabar... <3 ''
( Apaixonada por Palavras- Paula Pimenta)

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